Após meses de rumores, a confirmação, nesta segunda-feira (5), de que a LG vai encerrar globalmente a divisão de celulares da marca fez com que trabalhadores da fábrica em Taubaté (SP) passassem a viver em momento de apreensão, de acordo com o relato de um trabalhador ao G1.
“É uma vida que se constrói lá dentro. Tem gente com 20 anos de casa. A gente queria um pouquinho mais de consideração e transparência por parte da empresa. Faltou consideração na forma de conduzir”, disse o funcionário, que prefere não ser identificado na reportagem por medo de represálias.
Apesar de anunciar o fim da produção de celulares, a empresa sul-coreana não informou o que pretende fazer com os cerca de 400 dos 1 mil funcionários que atuam na produção de celulares na planta. A LG informou que vai negociar ações para minimizar os impactos.
O funcionário relata que a tensão pelo futuro incerto tomou conta de generalizada entre os demais setores.
“A ansiedade está bem alta. Tem pessoas ficando afetadas na parte psicológica e emocional, várias delas indo em médicos e com medo de perder plano de saúde, ainda mais neste momento. Muita gente adquiriu financiamento recentemente e fica preocupada”, relata.
Outro ponto que foi uma surpresa para o trabalhador, que está na empresa há cerca de dez anos, foi a estimativa de impacto com a saída da empresa do mercado de celulares.
“Internamente, os celulares são tratados como carro-chefe, então existe um medo que o impacto pode ser maior que 400 empregos. O que queremos do sindicato é que qualquer negociação incluísse também funcionários de notebooks e monitores. Sabemos que a fábrica só tem planos para até início do segundo semestre nestes setores. Por isso existe um temor de que a fabricação desses produtos possa ser transferida para Manaus”.
Impacto
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, além dos empregos diretos há ainda outros 430 funcionários de três fábricas terceirizadas exclusivas da LG que estão com os postos em xeque com o anúncio do fim da divisão de smartphones.
Com o fim das atividades em Taubaté, as fábricas da Blue Tech e a 3C, em Caçapava, e a Sun Tech, em São José dos Campos, também devem ser afetadas. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, 90% desse montante é composto por mulheres chefes de família.
Dos 430 terceirizados, são 40 da 3C, que faz a produção dos carregadores da LG, outros 170 são da BlueTech e outros 220, da SunTech – ambas fábricas que recebem matéria-prima da empresa sul-coreana e produzem os aparelhos, que depois são enviados para a matriz de Taubaté, onde recebem a certificação e são enviados para centros de distribuição.
O que diz a LG
A LG anunciou que vai encerrar a produção de celulares, mas não informou até o momento qual o futuro dos trabalhadores que mantém na fábrica em Taubaté, no interior de São Paulo, a única da companhia no país voltada para a produção de smartphones.
A unidade, que também produz monitores, tem cerca de 1 mil funcionários. Desse total, 400 estão alocados na área celulares.
Por nota, a empresa informou que vai negociar ações com o Sindicato dos Metalúrgicos para minimizar os efeitos de sua decisão.
“As negociações até o momento podem impactar os empregados dedicados à essa divisão, porém estão sendo avaliadas todas as possibilidades, tais como realocação, transferência ou rescisão”, informou por nota.
A empresa informou ainda que vai seguir operando por mais alguns meses, até o encerramento total dos insumos para produção.
Greve
De acordo com o sindicato, os trabalhadores das três terceirizadas da LG na região entram em greve a partir desta terça-feira (6). O movimento foi anunciado no início da tarde desta segunda-feira (5), logo após o anúncio da LG.
O sindicato também informou que, ainda nesta terça-feira, tem uma reunião marcada com representantes das empresas terceirizadas para discutir sobre a manutenção dos postos de trabalho.
Poder público
Em nota, a Prefeitura de Taubaté informou que está em tratativas com a LG desde início de fevereiro e que a montadora sinalizou que tem interesse em reativar a operação da linha branca (geladeiras e lavadoras) na planta, mas que isso dependeria de redução do ICMS pelo Governo de SP.
“A Prefeitura está praticando a política de redução de impostos municipais, no limite na lei, para que a empresa permaneça na cidade e os empregos sejam mantidos. A Secretaria de Desenvolvimento e Inovação já informou ao Estado que, caso haja negociação sobre ICMS na planta de Taubaté, a LG informou que há condições de reativar a produção de linha branca”, diz nota.
Já o Estado informou que “acompanha a situação e está em diálogo com a prefeitura de Taubaté para apoiar a recolocação dos trabalhadores da fábrica e a atração de investimentos para mitigação dos impactos na região”.
Panorama da LG
Apesar do anúncio do fim da divisão de celulares, a produção de monitores em Taubaté não deve ser afetada pela medida. O anúncio desta segunda também não deve afetar a outra fábrica que a LG mantém no país, que fica em Manaus (AM) e produz aparelhos de ar-condicionado, geladeiras e outros eletrodomésticos da chamada linha branca.
Com o anúncio desta segunda-feira, a LG se torna a primeira grande empresa que produz celulares a se retirar deste mercado.
A sul-coreana afirma que o fim das operações foi definida após sucessivos prejuízos na área. Antes, a companhia havia tentado vender todo o setor, mas, sem sucesso, optou pelo encerramento das atividades.
“Desde o segundo semestre de 2015, o nosso negócio global de celulares tem sofrido uma perda operacional por 23 trimestres consecutivos, resultando em um acumulado de aproximadamente 4,1 bilhões de dólares (US) [em perdas] até o final de 2020”, informou a LG em nota.
O futuro da LG já era especulado pela imprensa internacional desde o início do ano. Em fevereiro, uma notícia veiculada pelo jornal “The Korea Times” informava que a LG havia iniciado as negociações para a venda da produção global de celulares da marca.
No entanto, no fim de março a Bloomberg publicou que após o fracasso das negociações com uma empresa alemã e outra vietnamita, a empresa sul-coreana iria fechar o setor em vez de vendê-lo.
Na planta, os trabalhadores da divisão de celulares da fábrica de Taubaté aprovaram estado de greve em 26 de março. À época, eles buscavam negociação com a empresa diante das incertezas. Apesar disso, até a publicação não havia uma sinalização dos trabalhadores sobre uma paralisação.
Fonte: G1